Nos fins da Idade Média, a situação política da Europa passou por importantes transformações. A ascensão da burguesia trouxe a necessidade de se eliminar as autoridades e cobranças locais. Em seu lugar, um monarca teria a função de padronizar as políticas fiscais e monetárias de um mesmo território. Ao mesmo tempo, os grandes proprietários de terra se sentiam ameaçados pelas revoltas camponesas que ameaçavam seu antigo poderio político.
Nesse contexto, os monarcas se fortaleciam a partir do expresso apoio dado por nobres e burgueses. Por um lado, a burguesia pagava impostos para o financiamento de exércitos capazes de impor a autoridade real e fixar os impostos e moedas utilizadas em um mesmo território. Por outro, os senhores feudais abriam mão de sua influência política local para que o monarca assumisse a função de preservar as terras e privilégios da classe nobiliárquica.
Mediante essas mudanças de natureza política, observamos que alguns intelectuais se ocuparam de pensar as justificativas que explicassem a existência de um rei poderoso. Um dos primeiros a assumir essa tarefa foi o italiano Nicolau Maquiavel (1469 – 1527), que formulou vários conselhos que pensavam sobre o comportamento da autoridade real. Nesse sentido, ele apontou que as ações políticas deveriam estar apartadas dos valores morais vigentes.
Algumas décadas mais tarde, o inglês Thomas Hobbes (1588 – 1679) indicou que o governo centralizado nas mãos do monarca era uma ação necessária. Em sua opinião, a ausência de um governo forte abria caminho para que o “estado de natureza” do homem fosse dominante. Nesse sentido, o rei e a sua autoridade suprema evitariam a desordem e o egoísmo que marcavam a ação humana desprovida de limites. Afinal de contas, estando em liberdade, o “homem era lobo do homem”.
Além de tais justificações teóricas, existiam aqueles teóricos que se valiam de argumentos de ordem religiosa. Homens como Jean Jacques Bossuet (1627 – 1704) e Jean Bodin (1530 – 1596) acreditavam que a presença de um rei soberano manifestava as vontades de Deus. Com isso, o poder real seria a representação do poder divino na terra. Em uma época ainda marcada por forte sentimento religioso, os súditos não deveriam correr o risco de desagradar a Deus ao não seguirem as determinações reais.
Elaborado desde os fins da Idade Média, o absolutismo predominou no continente europeu até o século XVIII. Nessa época, a disseminação dos valores iluministas e o advento da Revolução Francesa, refutaram a existência de uma estrutura de poder centralizada e assentada em justificativas religiosas. A partir daquele momento, o absolutismo perdeu seu espaço e ficou conhecido como o “Antigo Regime”.
Por Rainer Sousa
Graduado em História